quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Literatura oral no Brasil

Posted by Cristina C C Vieira on janeiro 26, 2012 with No comments
1. A origem

    Em princípio - história popular; elemento simples, compacto, criado para e função exclusiva daquele uso; sentido nacional, expressão local, típica, desconhecida para os vizinhos e curiosa para ser entendida pelos estrangeiros. Atualmente: dificuldade em fixar o raro "local" e o fugitivo "nacional" no que dizemos próprio e mesmo característico.

  • Anedota ou história, cantiga ou ronda infantil ou adivinha - elementos justapostos, encadeados, formando o enredo, o assunto, o conteúdo - presenças em terras incontáveis e numa multidão de exemplos. A novidade consiste na forma tomada por esses elementos-temas. O grau de aproximação, resultante da maior ou menor coincidência do enredo geral ou de um e mais elementos formadores, vai batizando as variantes (cores locais, algum modismo verbal, um hábito, uma frase, denunciando uma região, uma época.)
  • Histórias mais populares no Brasil - as de caráter universal, antigas, seculares, espalhadas por quase toda a superfície da terra.
  • É possível o que não tenhamos recebido de fora, mas é feito com elementos importados (memória dos colonos, cultura negra espalhada através dos mestiços); a dos índios reduz-se as áreas geográficas em que a tribo se fixou.
  • Os mais antigos, iniciadores do gênero - as fábulas.
  • Episódios sentimentais surgem das tradições guerreiras das gestas, expandido-se, ampliado e transfigurado.
  • Tanto mais os temas se distanciam da simplicidade espiritual primitiva, da unidade psicológica inicial, maior número de elementos adquirem, desenvolvendo-se e possibilitando o entendimento para outros povos. As histórias para rir e os contos obscenos são conquistas de civilizados.
  • Finalidade - doutrinar, pondo ao alcance da mentalidade infantil e popular, por meio de apólogos, historietas rápidas, o corpo de ensinamentos religiosos e sociais que preside à organização do grupo.
  • É possível medir o grau de solidariedade dos ouvintes - participação crítica e apreciação espontânea da matéria moral.
  • Os temas satíricos são posteriores e variam de povo para povo.
  • O conto obsceno, a anedota fescenina, são testemunhos de evolução mental, libertação do grupo religioso de ensino catequístico, renúncia à moral comum.
  • A inclusão da literatura oral como informação decisiva de psicologia coletiva evidenciou não apenas antiguidade, mas humanidade dos temas e dos elementos.
2. Canto e dança - expressão da alegria plena do brasileiro (filho de raças cantadeiras e dançarinas), comunicação mais rápida, unânime e completa dentro do país.

  • Rápida comunicabilidade, não observada em qualquer outra parte do mundo, a não ser nas cantigas patrióticas ou satíricas.
  • Canto e dança são mantidos em seu caráter primitivo inseparável e siamês. Portugueses, africanos e indígenas tiveram danças cantadas e coletivas. Danças sem espectadores. Sem assistência. Todos os presentes participavam, cantando, dançando, batendo palmas. Os músicos dançam também. Só os velhos, os doentes, os inúteis, olham a festa.
  • "Quando o preto canta. Chicuembo repousa (Deus descansa)".
  • "andavam muitos deles dançando e folgando uns ante outros, sem se tomarem pelas mãos, e faziam-no bem" (Carta de Pero Vaz de Caminha).
  • Os portugueses foram grandes bailadores - Gil Vicente - o melhor documentário do Portugal quinhentista. Nele falam as mil vozes do povo, numa repercussão inteira e clara de maravilhosa fidelidade. Era assim que sentia o português quando o Brasil começou a viver.
  • O canto e a dança no Brasil são águas desses três estuários do indígena, do negro e do português.
  • Indígena: o maracá, o refrão curto; Cateretê, Caruru, contrariou, no impulso lírico português, o excessivo tema amoroso; os bailados Caboclinhos, Caiapós; o canto Catimbó nordestino e a pajelança amazônica.
  • Portugueses: o tonalismo harmônico, a quadratura estrófica, os instrumentos musicais popularíssimos: violão, cavaquinho, viola, flauta, oficleide, piano, grupo dos arcos, a Moda, o Acalanto, a Roda infantil, o Fado dançado, o fandango, o reisado, o pastoril, a marujada, a chegança (estas duas herdadas dos mouros).
  • Africanos: rítimicas, vocábulos, flexões de sintaxe e dicção que influenciaram a conformação da linha melódica. Cantos e danças, a Congada, o Maracatu, o maxixe, a habanera, o tango, o foxtrote.
  • "Na realidade, foi de uma complexa mistura de elementos estranhos que se formou a nossa música popular". (Mário de Andrade)

 
    OBS: Informações com base no capítulo 2 do livro "Literatura oral no Brasil".

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Cristina C. C. Vieira